sexta-feira, abril 09, 2010

O Muro da Vergonha



Uma breve descrição sobre o que vem acontecendo no estado do Rio de Janeiro desde o começo do ano passado com relação às favelas e à construção do chamado pela comunidade de "Muro da Vergonha".

O governo do estado do Rio de Janeiro, no mês de março do ano passado, apresentou à população carioca um projeto que visa a construção de muros para conter a expansão de 19 comunidades carentes espalhadas pelo estado.

Com um orçamento de R$40 milhões, o projeto, segundo as autoridades , tem a intenção de proteger a vegetação nativa remanescente nessas regiões, com aproximadamente 11km de muros e a remoção de 550 casas populares que devem dar lugar à nova construção.

Os muros vêm sendo construídos desde então.

No entanto, é interessante observar, que segundo dados do IPP (Instituto Pereira Passos), o Santa Marta, onde os primeiros blocos de concreto foram alocados, foi uma das favelas que não registrou expansão territorial entre os anos de 1998 e 2008. Pelo contrário, a comunidade encolheu em aproximadamente 1%. Observe o gráfico e as imagens abaixo, com dados do IPP:


Na minha opinião, assim como na de Rocinto Castro, Presidente da Federação das Favelas (como pode ser conferida no vídeo abaixo). A construção destes muros tem a finalidade de isolar a pobreza, como se as favelas não fizessem parte do Rio e aquela população pertencesse a outro lugar, fazendo com que os locais isolados pelos muros se assemelhem aos guetos.




Guetos que separavam os Judeus do resto da população nazista na alemanha e em outras partes da europa ocupadas por Hitler durante os seis anos de duração da Segunda Grande Guerra; aos guetos do regime político do Apartheid na África do sul, instituído no fim dos anos 40, que isolava a população negra nativa e indígena da população branca; aos guetos à que a população palestina é obrigada a viver na faixa de gaza e no interior da Cisjordânia, em consequência da criação do estado de Israel, se eu não me engano no mês de maio, em 1948 e da posterior construção de um muro cercando a Cisjordânia, que isola a população palestina daquela região do oriente médio; e a outras diversas formas de exclusão, que terão espaço em outras linhas deste blog, brevemente.

SOLUÇÕES?

Esses 40 milhões de reais, poderiam ser usados, por exemplo, para o início de um programa de melhoria das habitações, de contrução de casa populares no lugar das moradias mais simples, enfim, o argumento colocado pelo poder público para a construção dos muros – preservação ambiental – mostra-se frágil quando confrontado com os dados que tratam da opinião dos moradores e da expansão da favela como é mostrado na imagem acima.

Um plebiscito foi realizado na Favela da Rocinha, no dia 25 de abril de 2009. A consulta foi promovida pela Associação de Moradores da Rocinha e foi encerrada com um total de 1173 votos, dos quais 1111 foram contra os muros, 56 a favor e 6 nulos. Isso mostra a insatisfação da comunidade.

Pesquisando um pouco mais sobre o assunto, me deparei com uma descrição do escritor Português, na minha opinião, um excelente escritor, José Saramago, sobre o assunto:

"Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do Carnaval, a situação não está melhor. A ideia, agora, é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime organizado campeia por toda parte, as cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A corrupção parece imbatível. Que fazer?"

Que fazer?

Encontrar a solução para o problema das favelas certamente não é tarefa fácil. O fato é que a construção destes muros, está longe de ajudar a população que vive nas comunidades. Pelo contrário, só traz a segregação e a exclusão dos moradores da favela.

Já Dizia Adoniran...

Abaixo, uma das geniais letras de Adoniran Barbosa, pra mim, o maior nome do samba paulista, que conta a história de um despejo na favela.



Despejo na Favela (Adoniran Barbosa)

Quando o oficial de justiça chegou
Lá na favela
E contra seu desejo, entregou pra seu Narciso, um aviso pra uma ordem de despejo
Assinada, seu doutor , assim dizia a petição:

Dentro de dez dias quero a favela vazia e os
barracos todos no chão.
É uma ordem superior,
Ôôôôôôôô Ô meu senhor, é uma ordem superior

Não tem nada não, seu doutor, não tem nada não
Amanhã mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não, seu doutor, vou sair daqui, pra não ouvir o ronco do trator
Pra mim não tem problema em qualquer canto me arrumo de qualquer jeito me ajeito
Depois o que eu tenho é tão pouco minha mudança é tão pequena que cabe no bolso de trás.






Mas essa gente aí, hein?! Como é que faz?


(Alguma semelhança à primeira imagem deste post? Justiça?Religião? Esperança? Força? Fé?)

E quanto a você, caro leitor, considera este muro solução?

Para mais informações acesse o site:
Observatório de Favelas

E não deixem de conferir o vídeo acima.



Um comentário:

  1. Muito bom este post! Acho que estas idéias colocadas pelo nosso amigo Zuculin retrata muito bem o que nós do grupo estamos começando a focar mais no projeto! É nesse sentido que devemos ir!

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