terça-feira, abril 27, 2010

Enquanto isso, no cotidiano...



Eu entrei na UFABC em 2009 e por esse motivo fui obrigado a mudar de cidade. Sou natural de Sorocaba, interior de São Paulo e tive um período de adaptação relativamente pequeno aqui na capital. Mas percebi várias diferenças no comportamento e no modo de agir em relação às mais diversas situações entre o povo daqui e o de lá. No caminho entre a minha casa e a Universidade levo aproximadamente 40 minutos e utilizo dois ônibus na ida e na volta. Isso se tornou tão habitual que é comum eu fazer o trajeto bem desligado do mundo, pois ou eu to sempre lendo alguma coisa, ou estou ouvindo músicas, ou dormindo, ou, simplesmente, admirando a paisagem que existe entre Santo André e São Paulo. Hoje, aconteceu um fato muito interessante no ônibus. Eram 21h:45min e o veículo estava com quase todos os assentos ocupados.

Achei um vazio lá no fundo. Do meu lado estava uma mulher e seus dois filhos: o mais velho com uns 10 anos e o mais novo com 2. Não estavam mal vestidos, porém estavam sujos, com chinelos bem gastos e precisando de um banho, com certeza. A princípio nem me incomodei com eles, afinal eu estava com tanto sono que nem prestava atenção no mundo à minha volta. Logo que saímos do terminal urbano o filho mais velho começou a brincar no corredor, mexendo com um e outro passageiro. Inclusive comigo. Ele tinha um brinquedo na mão, bem simples, mas fazia um barulho bem alto. Era notável a reação do passageiro à criança, pois não queria ser incomodado. Quando percebia que não tinha sido bem recebido, o garoto mandava logo um "Me desculpa, não era pra incomodar. Só tava brincando". Aquilo me chamou a atenção.

Comecei então a observar a mãe. Ela não era das mais carinhosas e cuidadosas, mas percebi que estava preocupada com o dinheiro que tinha conseguido na rua. O moleque mais novo estava no assento ao lado dela, chorando. Chegou um momento em que ela, segurando um bilhete de trem, me perguntou: "Viu, que horas são?" - Respondi. "Quanto custa esse bilhete?". Respondi novamente. Ela, então, já foi logo me oferecendo, perguntando se eu queria comprá-lo. Respondi que não precisava, pois não utilizo trem com frequência. Pra não perder o negócio a moça reduziu o valor da venda pra menos da metade do valor do bilhete. Recusei a compra e mesmo assim ela foi cordial em sua resposta: "Brigada moço!"

Pela minha cabeça passaram-se várias coisas sobre o destino do dinheiro, caso ela tivesse sucesso com a venda do bilhete. Confesso que as opções negativas foram maioria, pois ao observar a pouca atenção que ela tinha com o filho mais novo, que estava chorando e provavelmente com fome, era bem defasada. Espero que o destino do dinheiro tenha sido para suprir a necessidade da pequena família.

Aqui no blog tem muitos posts que falam sobre muros que vão além de fronteiras de espaço. Muros que escondem pessoas como essas que vi hoje. Num gancho com o tema preconceito, ao olhar para aquelas 3 pessoas, a primeira impressão que teria-se sobre elas é que são favelados: uma mãe desleichada com dois filhos com o futuro comprometido. Mas ao notar a educação com que se comunicavam com os passageiros do ônibus eu pude ver além desse muro. Eu vi seres humanos, dignos de respeito e com direito aos "seus direitos". Eu não sei onde moram, desconheço o grau de escolaridade da moça e nem sei se os filhos, no caso o mais velho, frequentam uma escola e nem tampouco o que fazem pra ganhar os seu "trocados". Pode ser que a comunidade em que eles vivem seja a responsável pela estrutura social (mesmo sendo pequena) que eles possuem. O que eu aprendi e pude notar nas horas dedicadas a esse projeto ao longo do trimestre é que, muitas vezes, nós somos os responsáveis pela construção dos muros invisíveis. Um simples ato de ignorar uma pessoa, só por ela não estar de acordo com determinados padrões de socialização é o principal material pra que tenhamos um muro invisível e bem sólido!

Grande Abraço,

Hugo.


quinta-feira, abril 22, 2010

Uma Regressão Literária...


Dentre as maneiras que o Ser Humano desenvolveu para se comunicar, chamo a atenção para a Literatura. Esta foi um importante meio de se retratar o mundo, contar histórias, viajar por universos paralelos, enfim, uma maneira de transportar cada indivíduo aos mais diversos territórios, sejam eles descritos num universo de palavras, numa música ou num simples quadro.

No foco do nosso trabalho, muros invisíveis situados nas favelas e periferias, lembro-me da época pré-vestibular, mais precisamente as aulas de Literatura. Acredito que a grande maioria dos nossos leitores já leu, ou ouviu falar da obra clássica brasileira "O Cortiço" de Aluísio Azevedo, 1890. O autor teve o cuidado de retratar o homem em uma comparação ao animal (zoomorfismo) e expor, em cada situação, que os personagens são efeito e não a causa, por morar em um cortiço.

Das facetas retratadas, atento-me à fronteira que existe entre o Cortiço de João Romão (o protagonista) e à mansão existente bem à frente do cortiço. No começo, o que havia no lugar daquelas humildes casinhas da "Estalagem de São Romão" era um imenso terreno baldio, o qual não afetava, em nada, a vida luxuosa e cheia de regalias da qual Miranda, morador e dono da mansão, dispunha.

Dentre vários conflitos entre os moradores, do cortiço e da mansão, no enredo ocorre um fato que transforma o rumo da história de cada um que ali vive: o incêndio que levou à destruição as casas e parte da vida dos habitantes. João Romão, empreendedor que era, não se abalou com tal fato. Simplesmente decidiu reconstruir tudo, só que desta vez direcionou as moradias aos membros da burguesia. O sujeito tinha decidido enriquecer, e viu neste fato a oportunidade perfeita. Pouco lhe importava o destino daqueles cidadãos, pois seu objetivo estava claro.

Aluísio retratou em 1890 os conflitos que nós, os "privilegiados" por viver no século XXI, sentimos tão de perto. Uma análise mais atenta desta obra brasileira nos diz que não é fácil encontrar soluções para problemas antigos, que ao mesmo tempo são tão atuais. Não é preciso ir muito longe pra encontrar vários "ícones" como João Romão, Miranda e "Estalagens de São Romão". A mansão e a Estalagem eram separadas por um muro físico, de concreto, fácil de ser derrubado. Mas o que realmente estava por trás dos tijolos era imenso, talvez um dos maiores muros invisíveis da Literatura Brasileira, que na tentativa de transportar o leitor pra uma realidade fantástica, simplesmente relatou uma das mais cruéis realidades do nosso querido país!



Grande Abraço,

Hugo.

terça-feira, abril 20, 2010

Um muro para pesquisas e projetos que podem literalmente mudar o mundo?

Oi pessoas!!!

Eu sei que o rumo do projeto está decidido e tudo mais, mas eu ví esse vídeo e não me contive! Ele é muito interessante! É uma palestra sobre o crescimento e desenvolvimento das populações no mundo e da dificuldade de mostrar isso ao mundo por causa do monopólio de informação dos países! Um muro para pesquisas e projetos que podem literalmente mudar o mundo vocês não acham??



Tem legenda, viu?

sexta-feira, abril 16, 2010

A Grande Muralha da China



A pedido de algumas pessoas no dia da apresentação, resolvi postar alguma coisa sobre a muralha da china.

Ela foi criada para proteger a fronteira norte do Império Chinês de invasores de tribos nômades oriundos da Mongólia e da Manchúria. A Grande Muralha da China é, na verdade, uma série de muralhas cuja construção começou no século 5 a.C. e que foram unidas pela primeira vez no reinado de Qin Shi Huang, por volta de 220 a. C.


Achava-se que a Grande Muralha tinha cerca de 5 mil quilômetros. Porém, cerca de dois anos de pesquisa, conduzida pela Administração Estatal de Patrimônio Cultural e pela Administração Estatal de Topografia e Cartografia, utilizando-se de tecnologias GPS e infravermelho para localizar algumas áreas que haviam sido ocultadas ao longo do tempo pela ação de tempestades de areia, informou à agência estatal chinesa que a Grande Muralha tem 8.850 quilômetros de comprimento.

Atualmente, a Grande Muralha é um patrimônio mundial da humanidade declarada pela Unesco em 1987. Deste importante ícone no turismo chinês, apenas 3km foram restaurados e a circulação de turistas é permitida apenas em alguns pontos. Longe de Pequim torres da Muralha são usadas como lanchonetes, e em alguns casos, o turista é conduzido até o topo das torres de teleférico e de lá desce por um tobogã. Mais para o interior, camponeses utilizam os blocos com mais de dois mil anos para construção de suas residências.

Um ícone do poder e saber antigo, que foi construído para a proteção do povo chinês, hoje tem que se proteger dos próprios criadores, para sua preservação.





Referências Bibliográficas:

Discovery Channel Brasil - A Grande Muralha da China

Folha Online: Turismo - Grande Muralha da China Desafia e Empolga Atletas

BBC Brasil: Grande Muralha da China é maior do que se pensava, diz pesquisa

Brasil Escola - Muralha da China


quinta-feira, abril 15, 2010

Apresentação: um sucesso!

Ontem, 14/04, apresentamos a rodada inicial do nosso trabalho, onde falamos tudo o que estava rolando aqui no blog e como entrada da apresentação, foi passado um mini-filme de 6 minutos, onde foi feita uma entrevista no bairro Jaraguá, no morro Doce. Abaixo, o vídeo na íntegra, para quem não conseguiu ver ou escutar muito bem.


A apresentação, aparentemente, foi um sucesso e agredecemos à professora e a todos da sala que gostaram da apresentação e parabéns a todos os grupos que foram lá e fizeram o possível pra conseguir expor tudo o que tinha que por levando em conta toda a carga pesada que a universidade exige além dessa disciplina!

Primeiramente, sobre os comentários feitos pelo blog "Rivalidade no Futebol", a gente combinou de acatar bastante, principalmente no fato de deixarmos mais claro nossas opiniões subjetivas e tentar colocar um pouco mais de base histórica. A gente agradece pelos comentários e críticas!

O pessoal do blog da Divulgação Científica, mandou dois bilhetes ao término da apresentação. O primeiro sugeria um documentário ao redor de São Caetano, lugar de fácil acesso por ser na região do ABC e que não possui favelas, porém possui uma grande concentração destas ao redor da cidade. A dica foi acatada e estamos discutindo em ir lá sim! É uma idéia muito viável e boa! Obrigado!

O segundo bilhete sugeria que lêssemos "O menino do pijama listrado" de John Boyne, onde era claramente vista a idéia de "muro", "divisão" na cerca que isola o campo de concentração nazista. Sobre isso, a gente pesquisou e vimos que tem um filme baseado neste livro. O que o grupo está disposto a fazer é ver este filme e talvez ler o livro por curiosidade futuramente. Valeu pela sugestão também!

Enfim, eu particularmente queria falar que tiveram grupos muito bons, tão bons quanto o nosso, e outros que não ficou tão bom mais pelo quesito "timidêz". Acredito que a maioria das pessoas tinham claramente bem desenvolvida uma opinião e idéias para expôr, mas, por falta de experiência de falar em público ou outros motivos, acabaram não conseguindo falar tudo o que tinham pra falar.

terça-feira, abril 13, 2010

O Muro na Favela da Maré (RJ)


Observei, na segunda feira (12/04) uma notícia na televisão de um catador que está protestando sobre um muro que está sendo criado na favela da Maré.


Para quem não sabe, desde 2003 foi colocada em pauta a criação de um muro ao redor da Linha Vermelha, justamente nos trechos em que essas pistas cortam diversas comunidades populares, com a alegação de que a obra vai proteger da poluição sonora os moradores desses locais.
Abaixo há um vídeo do youtube, uma espécie de documentário, com algumas observações e algumas críticas feito pelas pessoas que residem ali na comunidade:



Sobre este assunto ainda, achei um artigo de 2006 feito por Cláudio Rezende Ribeiro, O Muro da Maré, que retrata bem a problematização do que está ocorrendo nessa comunidade. Como ele cita na página 70 deste artigo:

"Considera-se tal manifestação como uma concretização de um rumo perverso que pode se tornar a luta pelo direito à vizinhança. Neste caso, um discurso em nome de um suposto risco que afetaria toda a sociedade, a violência, traz a conseqüência imediata da separação entre as classes que freqüentam o mesmo território, revelando um interessante paradoxo posto que, ao se isolar a comunidade mareense com um muro, pode-se apreender que, na verdade, as maiores vítimas reais do risco violento não serão as supostas “protegidas” pela barreira de concreto, mas as que permanecerão em seu interior, porque, além da violência simbólica da separação, ficarão enclausuradas em áreas detentoras de um violento cotidiano bem mais grave que o dos outros, os do “lado de fora”."


Sobre o protesto:
Luiz Bispo, um catador, fez um protesto na Linha Vermelha dentro de uma gaiola suspensa, contra o muro de acrílico que está sendo erguido no conjunto das favelas da Maré. Ele foi vestido de presidiário, levou um penico, comida e cobertor.

“É uma contradição eles quererem paz no Oriente Médio, unindo palestinos e judeus, e, ao mesmo tempo, construírem esse muro. Esse muro da Maré é o apartheid. Além disso, é uma vergonha uma comunidade não ter pediatra nem ortopedista”, explicou Luiz, que está desde às 8h30 desta segunda-feira (12) na gaiola, onde ele pretende ficar pelo menos mais 30 dias. Segundo ele, a Unidade de Pronto Atendimento da Maré está sem médicos.

O que este senhor disse é de se questionar, pois o projeto estima o gasto de 4 milhões de reais para a construção do muro, algo que pode talvez ser menos importante que o gasto com medicamentos e saúde.

domingo, abril 11, 2010

A periferia de São Paulo pode explodir a qualquer momento

Essa entrevista é com o escritor Ferréz que eu encontrei na Caros Amigos. Essa entrevista é interessante no sentido de mostrar como a falta de um governo que atue seriamente nos problemas de uma cidade afeta e intensifica o muro invisivel do qual estamos falando. A entrevista completa você confere no site:


Ferréz tem 33 anos, é escritor, comerciante e autêntico representante dos sentimentos e das lutas da imensa população que vive na periferia de São Paulo. Ficou conhecido porque expressa com realismo a dureza das relações entre povo e Estado, entre pobres e ricos, entre as precárias condições de vida nas favelas e a repressão policial.

Hamilton Octávio de Souza - Fale um pouco da sua vida, onde nasceu, estudou, o que faz hoje.
Ferréz - Meu nome é Ferréz, eu não uso meu nome de batismo por que eu não acredito no batismo, não acredito na Igreja Católica. Prefiro um pseudônimo, por que é uma coisa que eu inventei também, como a minha carreira. Eu sou vendedor ambulante, eu só vivo com coisa debaixo do braço para cima e para baixo para vender às editoras, sou datilógrafo também, por que escrevo e trabalho com muita coisa para poder ter o básico, então vivo de muita coisa, trabalho de muita coisa. A minha infância foi normal como a de todo moleque de favela, tá ligado? Só não soltava tanto pipa porque meu pai não deixava.

Tatiana Merlino - Mas e o PT em si? O que você se decepcionou com o PT?
Ah! Eu não sei, eu votei num partido que prometeu outras coisas, entendeu? Não prometeu escândalo, não prometeu virar as costas na hora em um julgamento, não prometeu... O PT virou outra coisa, não é o que eu acreditava não. Não estou falando que tinha que ser revolucionário, que tinha que mudar tudo, que todo mundo sair de vermelho, mas era uma coisa que eu acreditava como moleque de favela que a favela ia mudar, entendeu? Mas eu tive que esperar o PCC chegar para mudar a favela, não foi o PT... A sigla foi outra, não foi o PT que mudou a favela, então nessas partes não é um governo autoritário ruim, mas também não é o governo dos sonhos que eu lutei, que eu vendi show, que o Góis morreu na estrada tentando lutar pelo partido, que eu vi muito amigo meu morrendo lutando pelo PT e ficando velho pelo PT, não era isso que a gente queria no poder e eu não tô falando só do Lula, tô falando de todo o partido.

Lúcia Rodrigues - O PCC mudou a favela de que maneira?
De toda a maneira possível que você pensa.

Lúcia Rodrigues - Positivamente?
Depende da visão. Tem gente que pensa que é positivo, tem gente que pensa que é negativo. Mas mudou.

Tatiana Merlino - Você pode falar um pouco dos dois lados, do lado positivo e do lado negativo?
O lado positivo é que a elite não sabe mais o que é a favela, não tem nem noção. O governo não tem noção do que é a favela mais, porque é outra favela, é outra coisa... E o lado negativo é que a população sempre vai ser oprimida.

Tatiana Merlino - O lado positivo é outra coisa como?
Não tem como explicar, assim... Mas mudou, eu, por exemplo, quando eu escrevi o Manual Prático do Ódio a favela era aqui, agora se eu for escrever sobre a favela agora é outra coisa. Por isso eu não escrevo mais sobre a favela, o meu próximo romance não é mais sobre a favela, por que eu não faço mais questão da elite saber o que é a favela não, não me interessa mais...

Lúcia Rodrigues - Mas mudou exatamente o quê? Explica um pouco melhor.
Mudou tudo. Mudou a vida criminal, tem regra, mudou tudo o que você imagina na vida cotidiana da periferia mudou.

Lúcia Rodrigues - É um Estado paralelo dentro da favela?
Poder paralelo? Não, é o poder. Esse negócio de dizer que é o poder paralelo, não existe o poder paralelo, o Estado não manda na favela, quem disse que o Estado manda na favela? A PM vai lá manda o cara por a mão da cabeça e tudo, repudia o cara, mas depois o cara volta a ser da favela, entendeu? Por mais que os caras cerquem um motoboy, cerquem o cara que está dentro do ônibus, bata geral em todo mundo eles vão embora e a favela continua. Então mudou tudo e vai mudar mais ainda, ta em processo de mudança.

Lúcia Rodrigues - Mas houve regras fixadas claras? O que aconteceu?
Há regras fixadas claras e toda uma norma de conduta e de respeito que o Estado nunca conseguiu impor.

Renato Pompeu - Quem impõe?
O crime.

Otávio Nagoya – Para os moleques de dentro você acha que é melhor ou pior?
Por um lado é melhor, por outro lado não. Você imagina que a gente deixou de viver num estado em que você pisava no meu pé e você podia levar uma comigo e eu podia te matar; você podia pisar no meu pé e levar uma comigo e eu ter que me segurar e a gente ter que se segurar, mas ao mesmo tempo nós dois estamos regidos por uma força maior que pode não se segurar, entendeu? Então você pensa o que é melhor: você estourar o seu ódio ali na hora ou você viver sob constante ameaça de um ódio maior.


sábado, abril 10, 2010

Um pouco de conceito!

Figura: Comunidades, identidades e culturas separadas (?) por um muro.

No âmbito de trabalhar os conceitos discutidos em aula, como eu expus em uma das aulas, eu poderia dizer que um muro pode servir para separar identidades ou comunidades. Mas como a professora disse, o muro pode ir muito além disso, da mesma forma como pode separar, o muro pode até unir dependendo do sentido em que está colocado.

Quando o Diego Zuculin fez a entrevista no Morro Doce, descobrimos que eles referem à favela onde moram como "comunidade". É muito interessante notar o sentido de comunidade para uma pessoa que mora na favela. É exatamente como dito por Zygmunt Bauman e exposto pela professora em sala de aula, a "comunidade" a que eles se referem servem para se sentir pertencidos a um grupo para enfrentar as turbulências das dinâmicas de transformações das estruturas sociais.

É legal notar como eles citam "aqui na comunidade", como se aquela comunidade fosse única, o que mostra como eles se sentem inseridos dentro deste termo. Pessoalmente eu não uso este termo no cotidiano (e aqui vai uma subjetividade minha), talvez isso reflita o quanto eles precisam se juntar para enfrentar tais turbulências.

Também é possível notar alí dentro da "comunidade" uma forte identidade. As pessoas lá parecem se divertir muito de uma forma bem simples. Pensando como a Sociologia, Patologia e Angtropologia comtemporâneas, há essa identidade formada no sentido de estarem felizes e, ao mesmo tempo, talvez descontentes com as dificuldades cotididianas. São as tais performances dos sujeitos às diversas situações em que estão submetidos. Por outro lado, o grupo que constitui o outro lado do muro tem identidades provavelmente muito diferentes destas vividas pelo grupo da favela.

Há muito dos conceitos expostos em aula que podem ser citados aqui. E a partir de agora, tentarei expô-los dentro dos textos e artigos futuros. Assim que o vídeo estiver pronto, poderemos fazer algumas análises de conceitos interessantes.


Sobre o andamento do blog!

Já deu para perceber que houve uma centralização do tema "muro" dentro de um contexto de diferenças sociais. Não é mais aquele muro físico, mas sim o tal "muro invisível" que pode separar classes, identidades, comunidades e até culturas.

O blog ficou um tempo parado. Isto aconteceu principalmente por causa da época de provas e grande quantidade de relatórios. Paralelamente, continuamos debatendo assuntos pertinentes ao blog e agora teremos mais tempo para postar o que foi discutido.

O blog tá com um problema de layout e não está abrindo direito no Internet Explorer e nem no Google Chrome, mas no Mozilla Firefox está funcionando ok! Tentaremos resolver isso o quanto antes!

O que vem por aí:
- O Diego Zuculin fez uma entrevista numa favela;
- Estamos tentando definir autores mais consagrados para seguirmos uma linha de pesquisa em cima de uma bibliografia mais consolidada;
- Nas discussões do grupo percebemos uma grande centralização do tema relacionado ao muro invisível -> favela / bairros nobres.

Igualdade na diversidade



Fabiola Ortiz dos Santos
13/04/2008

“Negar os valores africanos é desqualificar a visão do mundo cultural e religioso, isso é negar o nosso direito de reivindicação a tudo o que nos foi tirado e espoliado ao longo da história do povo negro”, considerou Mãe Beata de Iemanjá -liderança religiosa e social, e importante escritora afro-descendente, de renome internacional, na segunda-feira, dia 7 de abril de 2008, na palestra sobre Lições Africanas para a Igualdade na Diversidade Humana: a questão da não-violência, no auditório da Central de Produção Multimídia na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro -CPM/UFRJ. (...)

“Muitos falam de que o negro, por ser em maioria durante a escravidão, poderia ter se rebelado. Mas, por exemplo, a ginga é uma componente nova e muito importante da estratégia de resistência, como mostram diversos autores, entre eles Muniz Sodré, e que nos permitiu estar aqui hoje, falando e sendo escutados cada vez mais”, afirmou Conceição Evaristo, escritora afro-brasileira de renome internacional.

Igualdade na diversidade humana

“Quando falamos em igualdade na diversidade humana e no resgate à cultura africana, não queremos dizer o retorno a uma África mítica, mas trata-se de reconhecermos as sociedades indígenas e modos de vida que se caracterizam por uma aniquilação de nós próprios e do outro”, defendeu Conceição Evaristo. E ainda acrescentou que é preciso ter um olhar atento para a herança da africanidade impregnada na sociedade brasileira, “a idéia de brasilidade traz em si as lições de povos africanos”.

Para ela, as africanidades redesenham o projeto de país que apesar da presença forte da herança africana, o discurso acadêmico e o político deixou de lado muito tempo. “Não há como negar a importância dos africanos e descendentes na construção deste país”. Este olhar para o passado histórico e para o regime de opressão requer algum tipo de resposta, e de acordo com Conceição, não há o objetivo de responder com ódio, mas com ternura e com atitudes para reconstruir a nossa humanidade. “Cria-se um mito de que no Brasil houve uma escravidão benevolente, mas no entanto, os africanos é que responderam com ternura a esta violência”. (...)

Para o Prof. Dr. Evandro Vieira Ouriques, coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON/ECO/UFRJ, a matriz africana dá lições preciosas de não violência, exatamente por ser uma oposta a “da Filosofia Ocidental de entender que o homem se constitui na ruptura do continuum da natureza, e por isto o pensamento ocidental entende o homem como diferente da natureza. Não é à toa que mais de 2000 anos depois vivemos a presente e crescente crise socioambiental, na qual excluímos a natureza de nossa linguagem (e consequententemente de nosso projeto econômico-político) e excluímos assim nossos semelhantes, nossos irmãos e irmãs de um projeto de Sociedade que pode ser fundado na generosidade que é termos responsabilidade solidária uns com os outros”. (...)





O fragmento acima foi retirado do texto "Igualdade na Diversidade" - disponível no site: Ciranda Internacional de Informação Independente


sexta-feira, abril 09, 2010

Ilha das Flores




A miséria é o tópico central do premiadíssimo trabalho do diretor Jorge Furtado. A utilização de um título que contradiz a trama desenvolvida ao longo do curta foi uma das ótimas idéias apresentadas nesse trabalho. "Ilha das Flores" coloca em pauta a discussão acerca da pobreza, da fome e da exclusão social. Levando-se em conta que foi produzido em 1989, dá para perceber que as coisas não mudaram muito entre o Brasil daquela época e o de hoje.


Ficha Técnica

Diretor:
Jorge Furtado
Elenco: Ciça Rieckziegel
Ano:
1989
Local de Produção: RS, Brasil



O Muro da Vergonha



Uma breve descrição sobre o que vem acontecendo no estado do Rio de Janeiro desde o começo do ano passado com relação às favelas e à construção do chamado pela comunidade de "Muro da Vergonha".

O governo do estado do Rio de Janeiro, no mês de março do ano passado, apresentou à população carioca um projeto que visa a construção de muros para conter a expansão de 19 comunidades carentes espalhadas pelo estado.

Com um orçamento de R$40 milhões, o projeto, segundo as autoridades , tem a intenção de proteger a vegetação nativa remanescente nessas regiões, com aproximadamente 11km de muros e a remoção de 550 casas populares que devem dar lugar à nova construção.

Os muros vêm sendo construídos desde então.

No entanto, é interessante observar, que segundo dados do IPP (Instituto Pereira Passos), o Santa Marta, onde os primeiros blocos de concreto foram alocados, foi uma das favelas que não registrou expansão territorial entre os anos de 1998 e 2008. Pelo contrário, a comunidade encolheu em aproximadamente 1%. Observe o gráfico e as imagens abaixo, com dados do IPP:


Na minha opinião, assim como na de Rocinto Castro, Presidente da Federação das Favelas (como pode ser conferida no vídeo abaixo). A construção destes muros tem a finalidade de isolar a pobreza, como se as favelas não fizessem parte do Rio e aquela população pertencesse a outro lugar, fazendo com que os locais isolados pelos muros se assemelhem aos guetos.




Guetos que separavam os Judeus do resto da população nazista na alemanha e em outras partes da europa ocupadas por Hitler durante os seis anos de duração da Segunda Grande Guerra; aos guetos do regime político do Apartheid na África do sul, instituído no fim dos anos 40, que isolava a população negra nativa e indígena da população branca; aos guetos à que a população palestina é obrigada a viver na faixa de gaza e no interior da Cisjordânia, em consequência da criação do estado de Israel, se eu não me engano no mês de maio, em 1948 e da posterior construção de um muro cercando a Cisjordânia, que isola a população palestina daquela região do oriente médio; e a outras diversas formas de exclusão, que terão espaço em outras linhas deste blog, brevemente.

SOLUÇÕES?

Esses 40 milhões de reais, poderiam ser usados, por exemplo, para o início de um programa de melhoria das habitações, de contrução de casa populares no lugar das moradias mais simples, enfim, o argumento colocado pelo poder público para a construção dos muros – preservação ambiental – mostra-se frágil quando confrontado com os dados que tratam da opinião dos moradores e da expansão da favela como é mostrado na imagem acima.

Um plebiscito foi realizado na Favela da Rocinha, no dia 25 de abril de 2009. A consulta foi promovida pela Associação de Moradores da Rocinha e foi encerrada com um total de 1173 votos, dos quais 1111 foram contra os muros, 56 a favor e 6 nulos. Isso mostra a insatisfação da comunidade.

Pesquisando um pouco mais sobre o assunto, me deparei com uma descrição do escritor Português, na minha opinião, um excelente escritor, José Saramago, sobre o assunto:

"Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do Carnaval, a situação não está melhor. A ideia, agora, é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime organizado campeia por toda parte, as cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A corrupção parece imbatível. Que fazer?"

Que fazer?

Encontrar a solução para o problema das favelas certamente não é tarefa fácil. O fato é que a construção destes muros, está longe de ajudar a população que vive nas comunidades. Pelo contrário, só traz a segregação e a exclusão dos moradores da favela.

Já Dizia Adoniran...

Abaixo, uma das geniais letras de Adoniran Barbosa, pra mim, o maior nome do samba paulista, que conta a história de um despejo na favela.



Despejo na Favela (Adoniran Barbosa)

Quando o oficial de justiça chegou
Lá na favela
E contra seu desejo, entregou pra seu Narciso, um aviso pra uma ordem de despejo
Assinada, seu doutor , assim dizia a petição:

Dentro de dez dias quero a favela vazia e os
barracos todos no chão.
É uma ordem superior,
Ôôôôôôôô Ô meu senhor, é uma ordem superior

Não tem nada não, seu doutor, não tem nada não
Amanhã mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não, seu doutor, vou sair daqui, pra não ouvir o ronco do trator
Pra mim não tem problema em qualquer canto me arrumo de qualquer jeito me ajeito
Depois o que eu tenho é tão pouco minha mudança é tão pequena que cabe no bolso de trás.






Mas essa gente aí, hein?! Como é que faz?


(Alguma semelhança à primeira imagem deste post? Justiça?Religião? Esperança? Força? Fé?)

E quanto a você, caro leitor, considera este muro solução?

Para mais informações acesse o site:
Observatório de Favelas

E não deixem de conferir o vídeo acima.



quarta-feira, abril 07, 2010

Será que essa seria uma solução para o muro?


Galeraaaa!!!
Hoje foi o primeiro dia da rodada de apresentações...
Os projetos estão ficando realmente muito legais...
Parabéns!!
Semana que vem é o nosso...
Em preparação!!!


Bom, hoje estava eu no carro ouvindo a rádio cultura, quando passou uma notícia e, apesar de eu não estar prestando atenção, peguei umas palavras. Entre elas, duas me chamaram a atenção: favela e arquitetura! Fui pesquisar (afinal, o tema do projeto é esse né?). Olha que legal o que eu achei:



É um projeto apresentado na IV Bienal Internacional de Arquitetura de Rotterdam, cujo objetivo é "integrar a favela de Paraisópolis ao bairro (Morumbi), retirando-a da informalidade". O que é mais legal é que a proposta é em parceria com a União dos Moradores!

Será que essa seria uma solução para o muro?

É plausível, considerando que um dos principais motivos para a dificuldade de realocar os moradores seja a mudança de lugar, já que suas vidas, amigos e até mesmo seus empregos estão nas moradias informais que ocupam.
Muito legal a proposta!


Comentem ai pessoas!!!
Beijos
=**