terça-feira, abril 27, 2010

Enquanto isso, no cotidiano...



Eu entrei na UFABC em 2009 e por esse motivo fui obrigado a mudar de cidade. Sou natural de Sorocaba, interior de São Paulo e tive um período de adaptação relativamente pequeno aqui na capital. Mas percebi várias diferenças no comportamento e no modo de agir em relação às mais diversas situações entre o povo daqui e o de lá. No caminho entre a minha casa e a Universidade levo aproximadamente 40 minutos e utilizo dois ônibus na ida e na volta. Isso se tornou tão habitual que é comum eu fazer o trajeto bem desligado do mundo, pois ou eu to sempre lendo alguma coisa, ou estou ouvindo músicas, ou dormindo, ou, simplesmente, admirando a paisagem que existe entre Santo André e São Paulo. Hoje, aconteceu um fato muito interessante no ônibus. Eram 21h:45min e o veículo estava com quase todos os assentos ocupados.

Achei um vazio lá no fundo. Do meu lado estava uma mulher e seus dois filhos: o mais velho com uns 10 anos e o mais novo com 2. Não estavam mal vestidos, porém estavam sujos, com chinelos bem gastos e precisando de um banho, com certeza. A princípio nem me incomodei com eles, afinal eu estava com tanto sono que nem prestava atenção no mundo à minha volta. Logo que saímos do terminal urbano o filho mais velho começou a brincar no corredor, mexendo com um e outro passageiro. Inclusive comigo. Ele tinha um brinquedo na mão, bem simples, mas fazia um barulho bem alto. Era notável a reação do passageiro à criança, pois não queria ser incomodado. Quando percebia que não tinha sido bem recebido, o garoto mandava logo um "Me desculpa, não era pra incomodar. Só tava brincando". Aquilo me chamou a atenção.

Comecei então a observar a mãe. Ela não era das mais carinhosas e cuidadosas, mas percebi que estava preocupada com o dinheiro que tinha conseguido na rua. O moleque mais novo estava no assento ao lado dela, chorando. Chegou um momento em que ela, segurando um bilhete de trem, me perguntou: "Viu, que horas são?" - Respondi. "Quanto custa esse bilhete?". Respondi novamente. Ela, então, já foi logo me oferecendo, perguntando se eu queria comprá-lo. Respondi que não precisava, pois não utilizo trem com frequência. Pra não perder o negócio a moça reduziu o valor da venda pra menos da metade do valor do bilhete. Recusei a compra e mesmo assim ela foi cordial em sua resposta: "Brigada moço!"

Pela minha cabeça passaram-se várias coisas sobre o destino do dinheiro, caso ela tivesse sucesso com a venda do bilhete. Confesso que as opções negativas foram maioria, pois ao observar a pouca atenção que ela tinha com o filho mais novo, que estava chorando e provavelmente com fome, era bem defasada. Espero que o destino do dinheiro tenha sido para suprir a necessidade da pequena família.

Aqui no blog tem muitos posts que falam sobre muros que vão além de fronteiras de espaço. Muros que escondem pessoas como essas que vi hoje. Num gancho com o tema preconceito, ao olhar para aquelas 3 pessoas, a primeira impressão que teria-se sobre elas é que são favelados: uma mãe desleichada com dois filhos com o futuro comprometido. Mas ao notar a educação com que se comunicavam com os passageiros do ônibus eu pude ver além desse muro. Eu vi seres humanos, dignos de respeito e com direito aos "seus direitos". Eu não sei onde moram, desconheço o grau de escolaridade da moça e nem sei se os filhos, no caso o mais velho, frequentam uma escola e nem tampouco o que fazem pra ganhar os seu "trocados". Pode ser que a comunidade em que eles vivem seja a responsável pela estrutura social (mesmo sendo pequena) que eles possuem. O que eu aprendi e pude notar nas horas dedicadas a esse projeto ao longo do trimestre é que, muitas vezes, nós somos os responsáveis pela construção dos muros invisíveis. Um simples ato de ignorar uma pessoa, só por ela não estar de acordo com determinados padrões de socialização é o principal material pra que tenhamos um muro invisível e bem sólido!

Grande Abraço,

Hugo.


quinta-feira, abril 22, 2010

Uma Regressão Literária...


Dentre as maneiras que o Ser Humano desenvolveu para se comunicar, chamo a atenção para a Literatura. Esta foi um importante meio de se retratar o mundo, contar histórias, viajar por universos paralelos, enfim, uma maneira de transportar cada indivíduo aos mais diversos territórios, sejam eles descritos num universo de palavras, numa música ou num simples quadro.

No foco do nosso trabalho, muros invisíveis situados nas favelas e periferias, lembro-me da época pré-vestibular, mais precisamente as aulas de Literatura. Acredito que a grande maioria dos nossos leitores já leu, ou ouviu falar da obra clássica brasileira "O Cortiço" de Aluísio Azevedo, 1890. O autor teve o cuidado de retratar o homem em uma comparação ao animal (zoomorfismo) e expor, em cada situação, que os personagens são efeito e não a causa, por morar em um cortiço.

Das facetas retratadas, atento-me à fronteira que existe entre o Cortiço de João Romão (o protagonista) e à mansão existente bem à frente do cortiço. No começo, o que havia no lugar daquelas humildes casinhas da "Estalagem de São Romão" era um imenso terreno baldio, o qual não afetava, em nada, a vida luxuosa e cheia de regalias da qual Miranda, morador e dono da mansão, dispunha.

Dentre vários conflitos entre os moradores, do cortiço e da mansão, no enredo ocorre um fato que transforma o rumo da história de cada um que ali vive: o incêndio que levou à destruição as casas e parte da vida dos habitantes. João Romão, empreendedor que era, não se abalou com tal fato. Simplesmente decidiu reconstruir tudo, só que desta vez direcionou as moradias aos membros da burguesia. O sujeito tinha decidido enriquecer, e viu neste fato a oportunidade perfeita. Pouco lhe importava o destino daqueles cidadãos, pois seu objetivo estava claro.

Aluísio retratou em 1890 os conflitos que nós, os "privilegiados" por viver no século XXI, sentimos tão de perto. Uma análise mais atenta desta obra brasileira nos diz que não é fácil encontrar soluções para problemas antigos, que ao mesmo tempo são tão atuais. Não é preciso ir muito longe pra encontrar vários "ícones" como João Romão, Miranda e "Estalagens de São Romão". A mansão e a Estalagem eram separadas por um muro físico, de concreto, fácil de ser derrubado. Mas o que realmente estava por trás dos tijolos era imenso, talvez um dos maiores muros invisíveis da Literatura Brasileira, que na tentativa de transportar o leitor pra uma realidade fantástica, simplesmente relatou uma das mais cruéis realidades do nosso querido país!



Grande Abraço,

Hugo.

terça-feira, abril 20, 2010

Um muro para pesquisas e projetos que podem literalmente mudar o mundo?

Oi pessoas!!!

Eu sei que o rumo do projeto está decidido e tudo mais, mas eu ví esse vídeo e não me contive! Ele é muito interessante! É uma palestra sobre o crescimento e desenvolvimento das populações no mundo e da dificuldade de mostrar isso ao mundo por causa do monopólio de informação dos países! Um muro para pesquisas e projetos que podem literalmente mudar o mundo vocês não acham??



Tem legenda, viu?