As cidades muradas da Idade Média eram constituídas para proteger suas comunidades do invasor, da barbárie. Os muros de nossa história contemporânea – construídos por Israel na Cisjordânia, no lado leste da Palestina e pelos Estados Unidos, na fronteira com o México – por trás de uma função comum, que é "tentar impedir, de modo absoluto, a transposição, pela população, da fronteira entre duas unidades políticas distintas", diferenciam-se do seu congênere mais famoso de nosso passado recente, o muro de Berlim.
As fronteiras, obsoletas no conceito popular da globalização, estão longe de acabar, mas passam por uma profunda reformulação, avaliam os pesquisadores. "Conforme várias vezes afirmou o geógrafo Milton Santos – pensador atual que melhor refletiu sobre o tema – da mesma forma que as fronteiras podem ser um instrumento de coação e controle, também se apresentam como instrumento de proteção e de emancipação das sociedades nacionais", afirmam.
Pouco comentado, o "Muro do México" (ou "Muro do Império", como preferem alguns) que separa este país dos Estados Unidos, vai da praia de Tijuana, no Oceano Pacífico, e se estende sem interrupção por toda a fronteira entre os dois países até chegar no rio Grande. Começa a 150 metros mar adentro, como uma armação de 8 metros de altura de barras de aço e concreto, e se transforma numa linha de alambrados, paredes de concreto ou marcas de pedra. Alguns pontos estratégicos são vigiados com rigor, usando-se de câmeras, luzes e sensores eletrônicos, controlados pela polícia de fronteira.
Estudos da Universidade de Houston mostram que de 1994 até hoje morreram mais de 2,2 mil pessoas tentando atravessar a fronteira. O ano de 1994 marca a criação da Operation Gatekeeper, na Califórnia, especializada na vigilância da fronteira. Até aquele ano, o número de mortes vinha diminuindo, mas passa a crescer em 1995. Um aumento significativo é registrado entre os anos de 1999 e 2000, pulando de 250 para mais de 350 mortes por ano. Em quase 30 anos de história, morreram entre 800 e 1 mil pessoas tentando atravessar o muro de Berlim.
Muro Ético
Já o muro localizado no Oriente Médio, que adentra territórios palestinos ocupados por Israel teria outra natureza. "Esse é um muro étnico, da recusa de integração entre povos, da recusa da paz", dizem os pesquisadores. Alegando questões de segurança, o governo de Israel está construindo uma barreira de mais de 700 km na Cisjordânia.
Com exceção do governo norte-americano, as principais lideranças internacionais têm condenado, com alguma veemência, Israel pela construção do muro. A fronteira que ele estabelece vai além da chamada "linha verde", marco internacionalmente reconhecido como limite de Israel. Em artigo intitulado "Muro, humilhação e roubo", o lingüista e ativista político americano de origem judaica Noam Chomsky questiona os argumentos de segurança para sua construção. "O que o muro realmente faz é tomar terras palestinas", afirma. Segundo ele, a área que Israel está tomando para si possui os melhores recursos naturais da região. Os colonos israelenses instalados nesse território terão garantido o direito de uso da terra; já os palestinos precisarão reivindicar o direito de "viverem em suas próprias casas", afirma Chomsky. Após a pressão internacional, Israel anunciou que alterará o desenho atual do muro, aproximando-o – mas não o igualando – da "linha verde".
Parece um tanto quanto besta isso, as pessoas criam muros, não é no objetivo de querer algum tipo de segurança. Parece até uma forma de xenofobia, onde o muro é uma divisão para evitar a mistura de etnias e de povos. É uma coisa um tanto quanto absurda olhando assim por fora, mas que deve ter algum fator político muito forte para que aconteça.
ResponderExcluir