domingo, março 14, 2010

Lula vai a Israel com intenção de mediar negociações com palestinos

Denise Chrispim Marin - O Estadao de S.Paulo

Com uma oferta de mediação brasileira apresentada em 2003 e ressuscitada agora no fim do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia amanhã uma visita oficial a Israel e aos territórios palestinos em um momento especialmente delicado para as negociações de paz, que os Estados Unidos desejam mediar.

Ao desembarcar hoje em Tel-Aviv, Lula chegará com uma bagagem potencialmente explosiva: sua insistência em levar mais interlocutores para esse difícil diálogo, entre os quais o Brasil, e em interferir nas discussões internas entre a Autoridade Palestina (AP) e os radicais do Hamas.

No auge das pretensões, o Brasil quer até mediar diretamente o diálogo entre o Fatah e o Hamas, que tomou o controle da Faixa de Gaza em junho de 2007, após derrotar as forças de segurança do movimento laico.

Ontem, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, partiu de Israel, encerrando seu esforço para fazer avançar as negociações indiretas entre palestinos e israelenses. Sua visita foi prejudicada pelo anúncio de Israel de que pretende construir 1.600 casas em Jerusalém Oriental.

O argumento básico de Lula em favor de novos interlocutores é embalado pelo fracasso da mediação dos EUA. Um ministro próximo a Lula esmiuçou assim, na semana passada, a crítica à atuação de Washington: os EUA são parte interessada, estão atrelados ao ponto de vista de Israel. A mesma fonte lembrou que, apesar dos avanços iniciais nas negociações que mediou, a Casa Branca não conseguiu fechar um acordo capaz de permitir a convivência pacífica e segura entre os dois lados.

"O Brasil está interessado em integrar esse processo, quer jogar em favor da paz. Mas não vai se apresentar como um salvador da pátria", disse o ministro. "Se a negociação ficar pendurada nos EUA, não sei se funcionará."

País insuspeito. A primeira vez em que Lula se ofereceu para contribuir para a paz entre israelenses e palestinos foi em dezembro de 2003, quando se encontrou no Cairo com Nabil Shaath, então chanceler da AP. Segundo um diplomata, o mundo árabe recebeu bem a oferta pelo fato de o Brasil ser considerado um "país insuspeito", sem interesses políticos ou econômicos na região.

Em novembro, Lula insistiu na oferta de mediação brasileira ao receber os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da AP, Mahmoud Abbas. Apesar das negativas à interferência mais incisiva do Brasil, a Presidência e o Itamaraty insistem na possibilidade.

Fonte: O Estado de São Paulo
Publicação: 14/03/2010

Um comentário:

  1. Para ajudar a pensar o tema do grupo e também as interessantes fontes postadas por aqui, vou colocar aqui um conceito discutido na semana passada: cultura.

    Cultura não é apenas o modo de vida de um grupo, suas crenças, seus costumes, sua forma de organização. Cultura é a forma como os sujeitos e grupos atribuem significados aos acontecimentos reais e imaginários, aos objetos, a tudo o que os rodeia. (Clifford Geertz, vide textos dele no site indicado da prof. Keila) As culturas não são puras e isoladas, elas se misturam, se hibridizam, criam novas culturas em processos interculturais (Nestor Garcia Canclini, vide posts sobre ele no blog EDS). Um caminho para o grupo é pesquisar como sujeitos de um mesmo grupo ou de grupos diferentes atribuem significados ao que significa um muro, por exemplo, seja no mesmo local ou em locais diferentes também. Como o Alexandre disse, no blog de Globalização e Cultura, o que interessa é ressaltar perspectivas diferentes, pontos de vista que nem sempre são óbvios ou que todos aceitam. Eles fazem parte da estrutura e da dinâmica social e precisam ser reconhecidos para que se perceba a complexidade do real. E isso é importante para que vocês tenham outras visões menos simplificadas ou "quadradas" sobre as práticas acadêmicas e profissionais de vocês! Um muro é um muro. Um muro não é um muro. É e não é ao mesmo tempo? Sim. Não. Depende da posição dos sujeitos e grupos na estrutura e na dinâmica social, que se transforma sempre e que precisa ser permanentemente vista, revista e criticada. Bom trabalho... bjs

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